François Villon nasceu em Paris em 1431. Depois de estudar na Universidade de Paris, esteve envolvido em vários casos de roubo e num episódio em que feriu mortalmente um padre. Preso várias vezes, chegou a ser condenado à morte, mas teve a pena comutada em banimento da cidade de Paris. A partir de 1463 não se tem mais notícias dele, não se sabendo o ano de sua morte. A primeira edição de sua obra saiu em 1489. E dessa obra, vários poemas, seja dos mais líricos seja dos mais sarcásticos, estão entre os mais conhecidos da literatura ocidental.
A sua vida foi a mais estranha das simbioses. Era triste, mau, alegre, louco, magro e desprezível; um feixe de pele, ossos e fogo. Anguloso, inquieto e nervoso: “Seco e escuro como um cigano”, segundo ele próprio. O lábio superior desfigurado por um golpe de adaga, olhos voltados em furtiva obliquidade para o salto súbito de um possível gendarme escondido na sombra. Era o mais hábil e vil ladrão de Paris e o maior poeta da França a seu tempo.
Excerto:
A chuva nos descrosta e lava, e eis
nos curte o sol o corpo enegrecido;
corvo e pega desolham-nos cruéis,
e barba e sobrancelhas hão comido.
Sentar não nos é nunca consentido;
e cá e lá, ao vento que varia,
e assim em baloiçar-nos só porfia,
mais que dedais bicados nos olhai.
Não sejais pois da nossa confraria;
mas que Deus nos absolva lhe rogai.