“Como acontece nos grandes poetas em cuja família se inscreve, arriscaria dizer que a realidade criada por Vasco Graça Moura é carne nossa, mas como que anestesiada: simultaneamente nossa e distante e alheia.
Melhor: a nossa prolongada numa contiguidade que nos diz respeito.”
Pedro Tamen
“Como poeta, é Vasco Graça Moura um dos primeiros da sua geração: Dos mais exigentes, dos mais rigorosos, dos mais densos e cultos (…) A testemunhá-lo, aí estão – para citar apenas os mais recentes – livros como Quatro Sextinas, O Mês de Dezembro e Outros Poemas ou Recitativos (…)
David Mourão-Ferreira
“Uma certa densidade metafórica, um domínio seguro dos recursos expressivos (mas no sentido de poéticos) da linguagem, uma sensível e consequente vigilância estilística, uma certa agilidade sintáctica e discursiva”
Diário de Lisboa
“Particularmente este livro de Vasco Graça Moura, em nossa opinião, é um dos documentos mais impressionantemente belos dessa nova maneira de o poeta português de hoje retomar o gosto pela decadência, se aproximar de uma espécie de poesia «fim de século». É o poeta quem o diz, não somos nós, que «a arte é o princípio da morte». De que morte? A morte do próprio homem enquanto artista, a morte do próprio poeta enquanto poeta. E o reconhecer ele, Vasco Graça Moura, na sua admirável Elegia, que «nada muda no mudarem/as coisas incessantes» – o reconhecer este como que desencanto perante o novo, este como reconhecer, como reconhece na mesma Elegia, que dois amantes «conhecem tudo ou pelo menos/conhecem a ilusão de conhecerem», incongruentes – provas da extrema sageza como canta o amor e como pratica a arte da poesia, que outra coisa quererá dizer senão que os poetas da época em que o autor de O Mês de Dezembro e Outros Poemas elaboram, a partir do elaborado, o elaboradíssimo mel dos seus versos, vivem, realmente numa época de muito possível «neodecadentismo», de muito admissível «neo-fim-de-seculismo». Que isto não sirva, porém, assim o esperamos, para não conferirmos a Vasco Graça Moura e à extrema sabedoria da sua arte poética o lugar que ambos ocupam entre os mais engenhosos engenhos da poesia muito possível «fim de século». Não, Vasco Graça Moura visiona-se-nos como um dos grandes nomes da arte em que a arte «é o princípio da morte» – morte da própria arte, seja qual for «a consciência ou o rigor bastantes/para tocá-las na sua ressonância» – para tocá-las, à arte e à morte. E se o livro de Vasco Graça Moura em algo toca com rigor e elevação, com força e beleza, é na arte como arte e na morte como morte: morte da vida e morte da arte.”
João Gaspar Simões