Letras do fado vulgar

Vasco Graça Moura
Lisboa
Quetzal Editores
1997
Letras do fado vulgar
Capa de Rogério Petinga sobre desenho de Mário Eloy (cortesia de António Prates)

insinceridade
quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Edições

Vasco Graça Moura – Letras do fado vulgar; Lisboa: Quetzal Editores, 1997. ISBN 9725643232
Vasco Graça Moura – Letras do fado vulgar; Lisboa: Quetzal Editores, 2001. ISBN 9725643232