Poema trilingue publicado no blogue Abrupto, com a introdução que seguidamente se transcreve:
“Há meia dúzia de anos traduzi “A pantera”, uma das peças mais célebres dos Neue Gedichte do Rilke, tendo-a incluído em apêndice à minha tradução dos Sonetos a Orfeu. Há poucas semanas, o Joaquim-Francisco Coelho escreveu-me de Harvard, onde é professor, a enviar-me a sua própria tradução da mesma pantera. Achei que o facto de ele ser brasileiro e eu português tinha alguma influência nas nossas versões. E dias depois fiz o ciclo que lhe envio para o seu blog, em première mundial (!!!), por me parecer que corresponde a algumas das solicitações que recebeu a meu respeito…
Trata-se afinal de um espelhar e contra-espelhar de ironias, em que às tantas o próprio Rilke escreve a Lou Andréas-Salomé, conversa com Rodin, engendra um soneto e “posa” para a pantera…
A qual, se estivesse na Internet, por certo se poria também a fazer um soneto. Qualquer coisa deste tipo:
não há nada no mundo que me pague
para aqui estar. não há nada que jogue
e nada que responda ou faça blague
por eu, panteramente, estar no blog.
não há verso do rilke que me afague,
por mais que o vgm aqui dialogue
com o jpp, quer me embriague,
quer passe fome, ou me espreguice e drogue.
sou a pantera fora da internet.
passo lá por acaso. depois saio
e volto às grades onde alguém me mete.
e rujo e rosno e mordo e não me ensaio
nada nas piruetas da disquette
de apagá-la depois. só me distraio.
Saudações ao seu público bloguista.”
Vasco Graça Moura